terça-feira, 11 de maio de 2010

UMA HOMENAGEM ESPECIAL

UMA HOMENAGEM ESPECIAL


A praia estava deserta.

Apenas o areal
Recebia o beijo terno
Do mar calmo, inda que inverno,
Espalhando um amor leal

Que o mar a ela namora
Duma maneira constante
Nela entrando deslizante
Com beijos a toda a hora

E nas dunas sobranceiras
Por entre a vegetação
Sulcos de passos errantes
(Que, em actos proibidos,
Tinham passado os amantes
Que se enlaçavam escondidos
Unindo o seu coração)

Tudo o resto, adormecido...
A não ser fraco ruído
Vindo de rochas batidas
Pelo mar suavemente...
Ali onde esteve a gente
No início de nossas vidas

Sentei-me neste silêncio
Todo ele quase total
Que sei, à alma pertence-o
Esse acto tão natural
De sonhar com algo ido
E que um dia foi vivido
De modo tão especial

De ficar tão mudo e quedo
Sem falar com mais ninguém...

Agora tudo, porém,
Solidão. .. Era diferente
Mas estava ali sem o medo
De vir a ser descoberto
Como tivemos então

A nossa rocha, a de outrora,
Lembras-te, a do poema?
Já se tinha ido embora
E nem sinais dela havia
Que num dia, em fúria extrema,
O mar zangado a levou
(E o poema já previa)

Que junto a ela, escondidos,
Demos beijos proibidos
Enquanto o vento passava
E conivente afagava

Agora só eu lá estava.

Fui recordar o passado
Nesse gesto agradecido
De um dia ter conhecido
Pessoa como tu eras

Ter-te, quase inda criança
Num amor assim platónico
Mas que era para nós o tónico
Para sentir felicidade

Nossas poucas primaveras
Nosso estar pouco à vontade...
Nossa jovialidade
E que linda que tu eras!

Disseram-me que morreste.

Nem sei onde te levaram
Para que local terrestre...
Sei que as saudades ficaram

E momentos como este
Foi tudo o que procurei
O abrigo, não encontrei
O local, reconhecido

Um beijo por lá deixei
Com ternura, com carinho
Depois vim, sempre sozinho,
Mas gostei de lá ter ido.


Joaquim Sustelo
(editado em TERRA LUSÍADA, Antologia Poética Internacional)


Nota:

Aproveito para agradecer a toda a gente que aqui me tem comentado. Mas como este não é um espaço onde eu venha com frequência, só tardiamente vejo o que escreveram. E vou deixar o meu Blog pessoal, que aí sim, vou bastantes vezes e até tenho lá mais poemas. Sem desprimor para este, como é óbvio! Mas o outro é pessoal, compreenderão...

http://tardesdeoutono.blogs.sapo.pt/

Também não sei como agradecer aqui e aproveito para o fazer a toda a gente que me comentou. Estou a lembrar-me por exemplo das apreciações a UM POEMA LINDO, que só hoje vi. Peço imensa desculpa pelo atraso com que o faço.

Abraços para todos, começando pelo meu amigo Alexandre.

Joaquim Sustelo