quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Acabou o mundo

Acabou o mundo

mas eu vivo na lua

é o que me vale ainda

Isso e o seres linda nua.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Gostava

Gostava de apagar as nossas memorias
as nossas guerras e até alegrias
Gostava de cruzar-me contigo na rua
e sentir a doce loucura.

Gostava de sentir o teu mistério
o teu ar sério.
Gostava de sentir a tua mão
e ter coragem de dizer não.

Gostava...

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Sai ela

Sai ela

E pela janela vejo o amor cair

A partir do céu como uma chuva de estrelas

É vê-las a descer com gravidade;

É da idade que não está para brincadeiras,

Das cerejeiras que não dão mais palavras,

Das lavras que não dão boas colheitas;

Falta nesta receita um ingrediente:

Se não sente o coração, o amor cai,

E ela sai.

domingo, 28 de junho de 2009

MEDOS

MEDOS...


Lá na caverna
Desses meus medos
Tenho segredos
E tudo hiberna

Como em degredo
Eles lá estão...
(Funda prisão
Que guarda o medo
E o segredo
No coração!...)

Não tenho medo
Da noite escura
Dessa loucura
De almas perdidas

Nunca fantasma
Me amedrontou
Nada me pasma
De suas vidas

- Que tenha medo
Quem os criou!

Não tenho medo
Nem de gigantes
Isso era dantes
Todo esse enredo...

Não tenho medo
Nem de morrer
Que isso vai ser
Mais tarde ou cedo...

Mas um segredo
Que há lá guardado
Pobre coitado
Eu lhe concedo

Esse direito
De vir à tona...
Minha alma (dona)
Faz esse jeito...

Esse segredo
Vou-to dizer
(Ou tarde ou cedo
Tinha de ser...)

- Ele é o medo
De te perder!

Joaquim Sustelo
(editado em UM POUCO DE SOL)

quarta-feira, 20 de maio de 2009

ESPERO POR TI

ESPERO POR TI


Espero por ti
Em qualquer esquina
De qualquer rua
Qualquer jardim
Ou qualquer praça...
Não me esqueci
Dessa menina
Nem se atenua
Saudade em mim
Que queres que faça?


Espero por ti
Junto da fonte
Onde bebíamos
Sofregamente
Do nosso amor
Onde nos vi
Naquele monte
A flor colhíamos
Mas tu, ó gente!
Eras a flor


E aquele vale
O do ribeiro
Da nossa aldeia
Onde há o som
De água correndo,
Que nunca cale
Beijo primeiro!
E toda a teia
Que teve o dom
De ir sucedendo


Vivo e recordo
Os loucos beijos
Que então me deste
Soltos, sem lei
Tanto os senti!...
E hoje acordo
Sinto os desejos...
Mas tu morreste!
Não sei porquê
Espero por ti.


Joaquim Sustelo
(editado em UM POUCO DE SOL)

ÉS…

ÉS…



Tu sabes quanto me encantas
Mas vejo, ainda te espantas
Quando me vês querer-te tanto
Não sei que ideia é a tua
Quererás que diminua
Ou cesse todo este encanto?


Como posso então fazer
Se o facto só de te ter
Me deixa tão extasiado?
Esquecer-te, sabes... não posso!
Afastar-me? Oh vê o fosso
Que fica entre nós cavado!


Tu és a estrela que atrai
Nesta vida que já vai
Caindo num fim de tarde
És dos meus olhos o brilho
És a estrada és este trilho
Que percorro ao sol que arde


És desse sol a ardência
Que tenho por excelência
No caminho que percorro
Mas também sombra onde encosto
Água que bebo e que gosto
E que se não tenho... morro!


És a dona da magia
Que faz com que dia a dia
Queira ter-te aqui comigo
És a paz onde descanso
És a música que danço
És o meu porto de abrigo


És tudo, és luz, és ribalta,
Sonho real, glória alta,
Que encontrei na minha vida
És presente no futuro
Mais não quero nem procuro
Nem pode haver despedida!


Joaquim Sustelo
(em UM POUCO DE SOL)

sábado, 16 de maio de 2009

Romeu e Julieta

Na calada da noite fria
subia a rua do desejo
assobiando a melodia
que era mais do que um beijo.

De longe via a tua janela
sorria pela sombra que estava
bonita, mesmo bonita era ela
o momento que eu amava.

"Amar é mais difícil que viver"
como dizia um poeta.
E eu nao sei se quero saber
o fim de Romeu e Julieta.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

A besta Divina

A besta divina

Ser humano, a dança que está entre
As quatro patas e sumir, aparecer.
É a plenitude, frio e quente, nunca sempre,
Dos desequilíbrios, subir descer descender.
É o conseguir a queda apreciar
Sem no chão se imobilizar…

É um inspirar decisivo,
Um sopro decidido.
É um deslizar, cair e magoar,
Feliz por doer poder chorar,
Sabe saborear beber desejar,
Sentir cheirar conseguir descrever,
Dar ajudar fazer crescer!

Humano apenas enquanto vivo,
Pois pode deus ou animal se fazer.
E acredite, creia, crie e recorde.
Nós somos memória,
E só pela memória
Nos livraremos da morte.

sábado, 9 de maio de 2009

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Sabes-me

A tua boca soube-me a melância
E a sede urgente do meu desejo
Saciou-se no gosto desse beijo

A tua boca soube-me a canela
Naquele outro beijo dado a medo
Sabe-me a canela o teu segredo

A tua boca sabe-me a pimenta
Com a lingua entre os dentes de marfim
Melancia, canela e depois... sabe a mim!

domingo, 26 de abril de 2009

Cena final

Abriste-me no peito uma ferida,
grande como um punho
e dessa ferida saíam rosas rubras.

Cavaste entre nós um vale de silêncio
e cortaste em pedaços todo o cânhamo da terra.

Aplanaste a torre com que subi ao teu céu,
e expulsaste-me para leste do paraíso.
Tudo o que tu dizias era estrangeiro,
e deste-me de presente a solidão.

Quando abri os olhos
e me ergui fitando o horizonte
onde o sol destacava a palavra "FIM",
percebi de repente:
Ao perder-te, perdi-me de mim.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

ÉS…

ÉS…



Tu sabes quanto me encantas
Mas vejo, ainda te espantas
Quando me vês querer-te tanto
Não sei que ideia é a tua
Quererás que diminua
Ou cesse todo este encanto?


Como posso então fazer
Se o facto só de te ter
Me deixa tão extasiado?
Esquecer-te, sabes... não posso!
Afastar-me? Oh vê o fosso
Que fica entre nós cavado!


Tu és a estrela que atrai
Nesta vida que já vai
Caindo num fim de tarde
És dos meus olhos o brilho
És a estrada és este trilho
Que percorro ao sol que arde


És desse sol a ardência
Que tenho por excelência
No caminho que percorro
Mas também sombra onde encosto
Água que bebo e que gosto
E que se não tenho... morro!


És a dona da magia
Que faz com que dia a dia
Queira ter-te aqui comigo
És a paz onde descanso
És a música que danço
És o meu porto de abrigo


És tudo, és luz, és ribalta,
Sonho real, glória alta,
Que encontrei na minha vida
És presente no futuro
Mais não quero nem procuro
Nem pode haver despedida!


Joaquim Sustelo
(em UM POUCO DE SOL)

DEIXA FICAR UM BEIJO

DEIXA FICAR UM BEIJO



Deixa ficar um beijo
Ainda que partas...
Terei o ensejo
De o guardar junto às cartas
Onde mandavas tantos
Tão lindos, outrora...


Deixa ficar um beijo
Quando fores embora


É muito? É pouco?
Mas mata este desejo:
Ter mais um beijo teu
Até ficar louco
Por te ter perdido


Depois olhando o Céu
Inda hei-de agradecer
Ter contigo cruzado
E ter vivido


E o beijo guardado
Lá vai permanecer
Na gaveta, a um canto,
Triste, calado...


- O resto deste encanto
Agora adormecido.


Joaquim Sustelo
(em UM POUCO DE SOL)

A PRIMEIRA MUSA

A PRIMEIRA MUSA



Quando por mim passou
Olhei... ela me olhou
Num incontido espanto
Quantos anos passaram!
E os olhos a fitaram
Tinha mudado tanto!


Rosto já enrugado
Olhar bem mais cansado
Que a vida já lho trouxe...
E parámos os dois
Sorrimos e depois,
Depois... cumprimentou-se


As coisas do costume...
Um pouco inda de lume
Que nosso amor nos deu
Brilhava no olhar
Como que a recordar
Tudo o que aconteceu


Tantos anos ausente!
E agora finalmente
De novo eu a revia
Já uma luz difusa
Mas a primeira musa
Da minha poesia.


Joaquim Sustelo
(em UM POUCO DE SOL)

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Na cidade

A noite iluminada por loves em néon.
As paredes cobertas de cartazes
Com estrelas do roque que, sem som,
Cantam sobre o amor ser eterno,
E único, e outras palavras fugazes.
As pessoas a queixarem-se do inverno.
As estátuas sozinhas em praças,
De braços esticados aos pombos.
Os bêbados que passeiam aos tombos.
Os cães a cossar pulgas e carraças.
Os loucos a falar de outros mundos
Distribuindo profecias e ameaças;
E mais tarde, a dormirem vagabundos
Em pedaços sujos de cartão.
Ah! Como cansa tanto a solidão!
Como cansa ouvir repetir um chavão!
Como cansa tanto do que se vê,
e mais ainda viver sem saber porquê!
Às vezez o próprio cansaço me cansa.
E então procuro, no meio de tudo isto,
Essa bóia vaga de esperança
Que é descobrir-te nos olhos que existo.

terça-feira, 31 de março de 2009

Na praia

Quantas ondas invejo
que tocaram teu corpo
fonte de loucuras
fonte do meu desejo.

terça-feira, 3 de março de 2009

Não te sei definir

Não te sei definir
És quadro abstracto
Escultura de pedra
És melodia suave
Que toca a terra

És lua em noite quente
Amor de homem louco
Tudo o que não sei dizer
Febre em sol ardente

Não há lápis que te possa escrever
Não te sei definir
Flui em mim a vontade de te ter

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

o poema mais curto do mundo

Queria talvez ler-lhe o poema mais curto do mundo
Que coubesse na palma da mão
E pudesse ser lido de supetão
No tempo que dura um segundo.
Num livro de uma só página
Onde cada lágrima
Cairia como verso
De sílabas suspensas
Na poeira do universo
Como galáxias imensas.
Não conheço mais que um grão de areia
Dessa poeira
E eu também sou um grão de pó
Só um grão de pó 

Que lhe queria escrever o poema mais curto do mundo
Que coubesse na palma da mão
E passasse na cauda de um avião
Sobre os mares em que me afundo.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Mulher

Mulher é um substantivo 
que resiste às tempestades 
que é feminino e altivo 
e tão dado a liberdades 
como ao amor mais cativo; 
É uma linha num esboço 
que curva no pescoço, 
que se debruça nos seios 
a mirar olhos alheios 
e depois desenha o torso 
perdido em devaneios 
e novos rotundos enleios. 
Mulher é água no deserto 
que deixa os rapazes cheios 
de sedes e de anseios; 
é um lugar longe mas perto 
onde uma cabeça pode 
descansar sem receios. 
Mulher é sextina, é ode 
é quadra popular, é soneto 
é uma canção tocada 
por um jovem no coreto. 
Mulher rainha por um dia 
por toda a vida coroada:
quem a vê e quem a via
é cantada, celebrada
é pouco menos que nada 
e um pouco mais que tudo,
é um vislumbre desnudo 
num robe de seda pura. 
Mulher é o querer, é o vício 
é a resposta, é a cura, 
é um momento propício
à beira dum precipício.
Mulher é uma aventura 
uma guerreira e uma mãe 
é um gesto de ternura, 
é o porquê e o quem 
e ao cair a noite escura 
é uma mulher também.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Jamais

Jamais te enganaria com uma rima
Quanto tudo o que quero
É o branco do teu verso.

domingo, 4 de janeiro de 2009

"Verdades"

A vida e a morte são as constantes da existência,
Quer como estados ou apenas práticas,
Algumas d'humano são a crueldade e a clemência...

A verdade é bruta
A mentira é doce.
A mentira é bela sedutora humana
A verdade é bruta justa animal.

A mentira acaricia-nos, beija-nos, deixa-nos
E depois ri-se enquanto somos apanhados.
A verdade observa-nos e ri-se discreta no nosso delito,
Depois ergue-se da sua cadeira, esmurraça-nos até cairmos,
Fica imóvel, olha-nos acusadora até nós a aceitarmos...
Não nos deixa!

Gosto de brincar como mentira, penteá-la, elogiá-la,
Olhar nos olhos mergulhados em desejo...